sábado, 10 de janeiro de 2015

“MAIS MÉDICOS NÃO, MAIS PRÓTESES!”

No ano de 2013 o Ministério da Saúde em conjunto com o Ministério da Educação lançaram o Programa denominado “Pacto Nacional pela Saúde”, objetivando a melhoria do atendimento aos usuários do SUS, a melhoria em infraestrutura e equipamentos para a saúde, a expansão do número de vagas de graduação em medicina e de especialização/residência médica, e o aprimoramento da formação médica no Brasil.

No entanto, muitos se lembram, que quando foi lançado esse Programa conhecido como “Mais Médicos”, de imediato, houve uma alucinada reação dos inúmeros doutores de jaleco branco e suas entidades de classe contrários ao programa e com discursos corporativos, mercantilistas e preconceituosos, especialmente, contra os colegas cubanos.

Dando continuidade a essa histeria, as manifestações de grande parte dos médicos se intensificaram, durante a campanha eleitoral, e se colocando como paladinos da moral, da ética e da probidade iniciaram uma raivosa e violenta campanha nas redes sociais contra a candidata Dilma Rousseff, contra o PT, e o “Mais Médicos”, mesmo sabendo que 84% da população aprova o Programa.

Evidente, que não temos nada contra os médicos aliarem-se com o conservadorismo feroz da oposição, pois, vivemos numa democracia e o voto é livre e soberano. No entanto, com relação ao discurso da ética, da moral e da probidade, parece que a classe médica levou um duro golpe de difícil assimilação e recuperação.

Muitos brasileiros acompanharam no dia 04 de janeiro, a matéria do “Fantástico” sobre a “máfia das próteses” que assaltava os cofres do SUS. Por ironia do destino, essa quadrilha criminosa têm em suas fileiras, dentre outros larápios, vários médicos, os mesmos que faziam apologia à ética e a probidade administrativa.

Essa máfia, dentre outros esquemas, agia em conluio com empresas de próteses e advogados encarregados de ingressarem com ações judiciais objetivando o governo a pagar as próteses e cirurgias em hospitais privados, mediante diagnósticos falsos e com superfaturamento das peças.

Levantamento preliminar do governo aponta que entre os anos de 2005 a 2011, os gastos do SUS com o cumprimento de sentenças judiciais cresceram 100 vezes no Brasil. Passaram de R$ 2,5 milhões para R$ 266 milhões em 2011. Só em 2013, mais de R$ 1,2 bilhão foram pagos em despesas com próteses em geral. Esse valor é dobro do que o governo gasta no Programa “Mais Médicos”.

Sem dúvidas de que esse escândalo coloca em cheque a imagem de “bons moços” da classe médica, aliás, até o momento que escrevemos esse texto nenhuma entidade da classe se manifestou sobre esse vergonhoso escândalo de corrupção, aliás, essa omissão parece uma praxe, pois, isso já ocorrera em outros casos, como por exemplo, os “dedos de silicone”, os escabrosos casos do médico estuprador, Roger Abdelmassih, da doutora Virgínia Soares de Souza a médica que teria antecipado a mortes de centenas de pacientes da UTI do Hospital Evangélico de Curitiba, dentre outros.

Diante disso, fica claro que o exercício da medicina – com honrosas exceções de alguns profissionais – transformou-se em puro mercantilismo que passa pelo consultório, pela indústria da saúde e desemboca no lucro a qualquer preço. As favas o juramento de Hipócrates!

Nesse mesmo sentido e para fechar esse texto, vale citar trecho do excelente artigo do jornalista Saul Leblon: "...A recorrência dos escândalos médicos e o seu baixo impacto corporativo, comparado à animosidade engajada contra o "Mais Médicos", evidencia a existência de profundas distorções no ambiente médico do país...Entre indignado e estupefato, o conservadorismo de jaleco branco recusa a possibilidade da existência de outra referência de exercício da medicina que não os valores argentários...Solidariedade, internacionalismo e fraternidade formam uma constelação incompreensível a que divide o mundo entre consumidores e escravos...Felizmente, nem médicos do Caribe nascem bonzinhos, nem a mentalidade da máfia da prótese se reproduz por geração espontânea. Ambos são fruto de instituições, a ponto de uma não achar estranho sair de seu país para ajudar um outra nação. E o outro não hesitar em sangrar recursos públicos escassos de sua própria nação, que podem fazer a diferença entre a vida e a morte na fila da saúde pública. Com a palavra a entidades médicas do Brasil...!

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