Pelo exemplo profissional reproduzimos abaixo a corajosa Nota do jornalista Xico Sá:
NOTA
AOS LEITORES E AMIGOS
Caríssimos
amigos & leitores, pretendia nem mais falar desse assunto, mas devido à
forma como se alastrou –rizomáticos riachos e riachinhos delleuzianos & gonzaguianos
em busca do velho Chico em anos de bom inverno no Navio e no Pajeú-, creio que
devo alguma satisfação na praça, além dos "pinduras" morais e
existenciais de sempre. Valha-me meu bom Deus, viver é dívida, canelada e
dividida de bola.
Como
só os galãs vencem por nocaute, procurarei, mal-diagramado por natureza que
sou, triunfar nessa luta por pontos, minando, nas cordas do ringue ideológico,
vosso juízo emprenhado pelas redes sociais. Vamos lá;
1) Não há herói
nenhum nesse episódio. O máximo que chego é a anti-herói macunaímico ou ao João
Grilo do cordel teatralizado pelo bravo Suassuna. E olhe lá, e olhe lá, amiga
Karina Buhr, eu só quero tocar meu tamborzinho cósmico.
2)
Como já informaram alguns sites, pedi demissão do meu posto de colunista (do
caderno de Esportes) da Folha, jornal com o qual mantenho uma velha relação de
duas décadas, entre idas e vindas, furos, erramos assumidos variados,
pés-na-bunda de ambas as partes, grandes momentos, crises profissionais e
esticadas D.Rs (discussões de relação) gutenberguianas.
3)
Eis que na sexta-feira, 10/10, mandei a coluna em cima da hora, só para variar.
Nas linhas tortas -o velho Graça me entenderia nessa hora, embora corrigisse a
minha escrita adjetivosa-, tratava do Fla-Flu eleitoral, defendia que os
jornais saíssem do armário –como as publicações americanas- e tecia queixas à
cobertura desequilibrada da Folha e da imprensa no geral. E repare que a Folha,
senhoras e senhores, é bem melhor em se comparando aos outros jornalões, vide
grande revelação do aeroporto privado de Aécio e o mínimo questionamento do
choque de gestão nas Gerais, esse fetiche econômico insustentável até para a
Velhinha de Taubaté do meu amigo Veríssimo.
Bem,
como eu ia falando, defendia na coluna que os jornais assumissem suas
explícitas posições, donde encerrei o desabafo gonzo-lírico-político usando o
direito de declarar minha preferência pela Dilma.
4) A direção do jornal
entendeu que o texto feria um dos princípios da casa; o de não permitir fazer
proselitismo político ou eleitoral em favor de nenhum candidato. Sugeriu,
civilizadamente, que alterasse o texto. Prosa vai, prosa vem. Refleti e mantive
a escrita. Argumentei que outros colunistas, de alguma forma, feriam o
princípio interno, no que me acho prenhe de razão, né não? Ou seriam textos
inocentes?
5) Finquei pé, mais honra do
que birra, pantins e queixumes. A direção do jornal sugeriu que eu poderia
publicar, porém na página 3., na segunda-feira. É a página de "tendências
& debates", na qual convidados, não gente da casa, manifesta
livremente suas opiniões, inclusive de voto. Migrar para um espaço de
"forasteiros" não me fez a cabeça, não achei que fosse a solução para
o impasse. Qual o faroeste dos irmãos Cohen, achei que também teria o direito
de ser, pelo menos um dublê, à esquerda, dos caras que botam para quebrar nas
suas colunas da Folha. O faroeste moderno se chama "Onde os fracos não têm
vez".
6)
Daí o meu pedido de desligamento como colunista do jornal, função que exercia
na figura de PJ (pessoa jurídica mediante nota fiscal), não como funcionário
contratado pelo grupo Folha.
7)
No dia seguinte, não mais na condição de colunista, soltei uma saraivada de
posts de escárnio e maldizer nas redes sociais, em um espasmo de ira &
lirismo que defini, no twitter, como um manifesto gonzo-político livremente
inspirado na minha atual releitura de Hunter Thompson e na memória do genial
Nezinho do Jegue, personagem de "O Bem Amado", do baiano Dias Gomes,
que, uma vez alcoolizado, insultava a humanidade. Eis um direito divino,
dionisíaco, um direito dos malucos, além muito além de todas as Constituições,
como diria o gênio-mor Antonin Artaud e seu duplo.
8)
Um dos posts dessa performance dionisíaco-tuiteira-brizolista, meu caro e amado
Zé Celso, vociferava também contra os petistas, considerando que não desejava o
(inevitável e irrefreável) uso da minha opinião como propaganda oficial.
"Phueda-se o PT", com PH e tudo,dizia este monstruoso cronista.
Relembrava que o governo do PT e de todas as siglas da sacanagem alfabética têm
que ser investigados sim. Meu reclamo é/era pontual; por que só os caras de um
lado são responsabilizados pela história universal da infâmia e ninguém
publica, para valer, o "rebuceteio" –para usar um clássico da
pornochanchada nacional- do outro lado da suruba pornô-política, querido
Reinaldo Moraes?
É
muito desequilíbrio. É praticamente jornalismo de campanha. Não cobertura.
9)
O pedido de demissão. Finalmente explico. Mais demorado do que a declaração de
voto da queridíssima Marina, que infelizmente esqueceu a nova política na qual
eu caí feito um patinho de primeiro turno na lagoa Rodrigo de Freitas.
A
demissão. Suspense à Hitchcock.
Vixe.
Volver a los 17, como cantaria Mercedes Sosa, a quem escuto ao fundo dessa
escrita, alternando com Nação Zumbi, óbvio. Volver à minha pobre coluneta do
caderno de Esporte da Folha. Defendi meu patrimônio imaterial único e
universal, quase um sufrágio, meu direito, daí o finca-pé que resultou no meu
pedido de afastamento do universo folhístico.
Ingenuidade
achar que, em período de extremada passionalidade e justíssima crítica ao
desequilíbrio na cobertura da "imprensa burguesa" (outro termo
vintage comuno-anarquista usado e abusado nos meus posts com toda sinceridade
desse mundo) neguinho não fosse compartilhar essa bagunça barroca toda, agora
falo com meu irmão Wally Salomão, para o que der e viesse. Rede social é como
aquela parada bíblica do olhai os lírios do campo, eles não tecem, eles não
fiam...
10)
Enfim, o resto é barulho, mas creio que narrei, com alguma vantagem pessoal
comum aos narradores de primeira pessoa, a onda toda –ai de mim, amigo Walter
Benjamin! Donde reafirmo, não há heroísmo algum além de uma refrega dramática
de um velho cronista, talvez um pouco ultrapassado e dionisíaco, com la prensa
burguesa, reafirmo o clichê da velha bossa, afinal de contas renascemos sempre
num Cocoon metafísico de águas imaginárias e milagrosas.
Como diria, agora meu brother
Arnaldo Baptista, quero voltar pra Cantareira.
Deus abençoe os velhos e as
crianças, eis meu dizer sobre essa confusão toda que eu achei tão normal como
falar do seu candidato no boteco da esquina, era assim na vida antigamente.
Por
que isso virou tão chato e eu não posso?
Justo num texto tão babaca,
defendendo uma candidatura que só consegue ser mil vezes melhor do que Aécio
mesmo. Afinal de contas essa peleja é um W.O. da porra. Ou deveria ser para
quem tivesse juízo.
Ah,
cadê a dialética do esclarecimento das espumas flutuantes dos mares de cerveja,
viejo Wander Wildner?
Aliás,
por que eu não poderia escrever aquele texto babaca, aliás eu tenho sido um
péssimo cronista, tanto de amor como de futebol, preciso me reciclar, reler
todo o Machado de Assis, ele me ensina, também relatei isso aos meninos folhais.
Eu careço ouvir todo Jards
Macalé, meu ídolo. Esse episódio cá Folha, aliás, não é político, é ridículo se
pensamos na grandeza da vida. As folhas das folhas da relva, menino Holden, é o
que doravante me interessa como razão de viver debaixo de uma árvore ou sob o
guarda-chuva moral dos caras que viram polícia do texto sem saber que uma
besteirinha de nada pode virar idiotice e totalitarismo.
Agora voltei de vez para
"O Apanhador...", mas, juro, me perdõe, pela confusão toda com o
jornal, com as redes sociais e qualquer coisa. Como dizia Holden, "gosto
de Jesus e tudo, os apóstolos é que são uns chatos."
0 comentários:
Postar um comentário