“Não ligo que me
olhem da cabeça aos pés..porque nunca farão minha cabeça e nunca chegarão aos
meus pés” – Bob Marley
Malgrado alguns senões, podemos afirmar que o Brasil é um exemplo
em matéria de legislação no combate ao racismo. Temos leis
infraconstitucionais, como, por exemplo, o “Estatuto
da Igualdade Racial” e a própria Lei Maior do País que prevê que
“a prática do racismo constitui crime
inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei” (art. 5º, XLII).
Mas, mesmo diante desse arcabouço legal, parece que
as leis não são suficientes para constranger as inúmeras atitudes e atos de
racismo no Brasil e mundo afora. Dessa forma, não obstante a importância das
mesmas nos afigura que o fim dessa barbárie somente ocorrerá a partir da
educação e do momento que se tratar a luta contra o racismo sem desvios, hipocrisias
ou mentiras.
A falsidade no debate sobre o preconceito racial,
lamentavelmente, toma conta de quase todos os segmentos da sociedade, e por
mais paradoxal que seja até mesmo na grande mídia. O jornalista global, Ali Kamel, por exemplo, teve o desplante de
lançar um livro cujo título é: “Não
somos racistas”. Nessa “obra” ele sustenta que não há discriminação racial no
Brasil e que todos vivem em total harmonia. Está claro de que se trata de um
antagonismo que em nada contribui para o bom debate, ao contrário, distorce e tenta encobrir os rotineiros casos de racismo no Brasil, que saltam aos olhos.
O racismo, como sabemos, não é uma prática, meramente “tupiniquim”,
o mundo está cercado por todo tipo de intolerância, em especial a racial. No
dia 27 de abril, por exemplo, o planeta foi surpreendido com mais um terrível
caso de racismo. Desta feita foi na Espanha, e a vítima foi o brasileiro Daniel
Alves, jogador do Barcelona. O caso
ocorreu durante a Partida contra o Villarreal. Quando Daniel Alves se preparava
para cobrar um escanteio um torcedor jogou uma banana fazendo alusão ao macaco.
Em ato contínuo e com uma pronta e inteligente reação, Daniel Alves pegou a
fruta e a comeu. Essa imagem ganhou o mundo e obteve reações duras e firmes
contra o racismo, mas, também, houve ações oportunistas e hipócritas.
Logo em seguida ao episódio, o Atleta Neymar, em “solidariedade”
ao colega, Daniel Alves lançou, nas redes sociais, uma campanha denominada
#somostodosmacacos. Essa campanha ganhou apoio de inúmeras personalidades,
dentre elas, Luciano Huck. No entanto, descobriu-se depois que tal campanha foi
idealizada pela agência de publicidade “Loducca”, e o mais terrível: Luciano
Huck pegando carona na campanha, colocou à venda camisetas com o slogan
#somostodosmacacos, ou seja, para Neymar foi uma jogada de marketing, e para o
apresentador global, a luta contra o racismo se transformou em fonte de renda.
Aliás, essa campanha mereceu inúmeras críticas, a contar do
próprio Daniel Alves, que disse: “...."Eu não gosto muito do
#somostodosmacacos, porque acho que a gente é a evolução disso. Somos humanos e
todos iguais. Acho que é isso que devemos defender...Marcas me procuraram, mas
eu não quero ganhar com isso, não quero popularidade. Não quero ganhar nada a
não ser a luta contra o racismo..."
Nessa mesma linha a Ministra a Secretaria de
Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Luiza Bairros, manifestou: "...Essa
imagem do macaco associada à pessoa negra é uma imagem muito poderosa. E se
você assume essa imagem como válida, corre o risco também de reforçar o
estereótipo. Eu entendo a campanha e a motivação da campanha, mas não é possível
assegurar que ela tenha o sucesso necessário para reverter a representação
negativa que a palavra 'macaco' tem quando associada à pessoa negra...."
Por sua vez, o Professor e militante do Movimento Negro, Douglas Belchior, assim se posicionou:“...a atitude de Daniel Alves não há o que interpretar.
Ele elaborou uma reação objetiva ao racismo: Vamos ignorar e rir!....Neste
país, assim como em todo o mundo, a comparação de uma pessoa negra a um macaco
é algo culturalmente ofensivo....Eu como negro, não admito. Banana não é arma e
tampouco serve como símbolo de luta contra o racismo. Ao contrário, o reafirma
na medida em que relaciona o alvo a um macaco e principalmente na medida em que
simplifica, desqualifica e pior, humoriza o debate sobre racismo no Brasil e no
mundo...Eu adoro banana. Aqui em casa nunca
falta. E acho os macacos bichos incríveis, inteligentes e fortes...Viemos deles
e a história da evolução da espécie é linda. Mas se é para associar a origens,
por que não dizer que #SomosTodosNegros
ou #SomosTodosDeÁfrica ? Porque não lembrar que é de África que viemos,
todos e de todas as cores? E que por isso o racismo, em todas as suas formas, é
uma estupidez incompatível com a própria evolução humana? E, se somos, por que
nos tratamos assim?"
Diante de tudo isso cabe a nós rechaçar qualquer forma de preconceito, em especial o racial, bem como confrontar e denunciar, publicamente, todos aqueles oportunistas que deturpam o debate ou que fazem da luta contra o racismo trampolim para seus interesses pessoais. Essa luta é muito mais ampla, ela é coletiva e o debate deve ser aberto, radical, sem subterfúgios e pautado nos conhecimentos sociológicos e políticos de todo o processo histórico que envolve o embate contra o racismo. Diferente disso é puro oba,oba...!
Diante de tudo isso cabe a nós rechaçar qualquer forma de preconceito, em especial o racial, bem como confrontar e denunciar, publicamente, todos aqueles oportunistas que deturpam o debate ou que fazem da luta contra o racismo trampolim para seus interesses pessoais. Essa luta é muito mais ampla, ela é coletiva e o debate deve ser aberto, radical, sem subterfúgios e pautado nos conhecimentos sociológicos e políticos de todo o processo histórico que envolve o embate contra o racismo. Diferente disso é puro oba,oba...!
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