Respeitem Lula!

"A classe pobre é pobre. A classe média é média. A classe alta é mídia". Murílio Leal Antes que algum apressado diga que o título deste texto é plágio do artigo escrito por Ricardo Noblat (...)

A farsa do "Choque de Gestão" de Aécio "Never"

“Veja” abaixo a farsa que foi o famoso “Choque de Gestão” na administração do ex-governador Aécio “Never" (...)

A MAIS TRADICIONAL E IMPORTANTE FACULDADE DE DIREITO DO BRASIL HOMENAGEIA O MINISTRO LEWANDWSKI

"O Ministro do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski recebeu um “voto de solidariedade” da Faculdade de Direito da USP (Universidade de São Paulo) pela “dedicação, independência e imparcialidade” em sua atuação na corte. (...)

NOVA CLASSE "C"

Tendo em vista a importância do tema, reproduzimos post do sitio "Conversa Afiada" que reproduz trecho da entrevista que Renato Meirelles deu a Kennedy Alencar na RedeTV, que trata da impressionante expansão da classe média brasileira. (...)

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

ATÉ NO FUTEBOL A MÍDIA DISTORCE AS INFORMAÇÕES

"Com a lei, pela lei e dentro da lei; porque fora da lei não há salvação".
(Rui Barbosa)

É sabido que o Campeonato Brasileiro de Futebol, mais conhecido como “Brasileirão” é um dos torneios mais disputados e equilibrados do mundo, e os dados corroboram tal afirmativa. Esse campeonato teve início no ano de 1959, e até o ano de 2013, tivemos a supremacia dos clubes paulistas com 28 títulos, seguidos dos cariocas com 16, e de outros Estados com os seus respectivos clubes campeões.

Diante desses números podemos constatar que malgrado a hegemonia do Estado de São Paulo o campeonato sempre foi muito equilibrado. Mas se no campo de jogo é bem disputado, na organização dos torneios (nacional e estaduais) a disputa é um desastre pela desorganização, corrupção e desmandos praticados pelos dirigentes de clubes, pelas Federações e Confederação de Futebol.

Na outro ponta dessa paixão nacional aparece a Justiça Desportiva (artigo 217 da CF/88), formada pelos Tribunais de Justiça Desportiva (TJD) e pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) como última instância e com sede na cidade do Rio de Janeiro. A organização, o funcionamento, as atribuições da Justiça Desportiva e o processo desportivo, bem como a previsão das infrações disciplinares e de suas respectivas sanções, no que confere ao desporto são reguladas pelo Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD) criado pela Resolução n 29 do Conselho Nacional do Esporte.

Nessas últimas semanas, mais precisamente, com o final do Campeonato Brasileiro de 2013, ganhou destaque na “mídia nativa” não apenas o grande campeão Cruzeiro Esporte Clube, mas, também, a Justiça Desportiva e o envolvimento de três Clubes numa demanda judicial: Fluminense, Flamengo e a Portuguesa de Desportos.

O Fluminense rebaixado para a segunda divisão pelo índice técnico, ou seja, no campo de jogo, impetrou recurso junto a STDJ alegando que a Portuguesa e o Flamengo disputaram suas últimas partidas com atletas irregulares, infringindo assim o artigo 214 do CBJD que prevê como sanção a perda de três pontos e mais os pontos obtidos na disputa da partida. Nesse caso, tanto o Flamengo quanto a Portuguesa perderam 4 pontos cada. E é exatamente aqui que inicia a briga na Justiça Desportiva e a vergonhosa manipulação de informação por parte da mídia, especialmente, de São Paulo.

Inicialmente é bom lembrarmos que, historicamente, a mídia paulista não aceita que as sedes da CBF e do STJD estejam instaladas na cidade do Rio Janeiro, tendo como álibi o falso argumento de que essas entidades privilegiam os Clubes cariocas. Evidente que se trata de um raciocínio meramente bairrista e baixo, pois, os dados sobre a hegemonia dos clubes paulistas, comprovam as inverdades midiáticas.

Aliás, comentando essa postura da mídia, o brilhante jornalista Sérgio Cabral escreveu no jornal “Lance”: “...Umas das distorções mais constantes é a de que a sede do STJD na cidade do Rio de Janeiro daria aos clubes cariocas uma situação privilegiada...Se já houve alguma decisão favorável aos clubes cariocas por causa da geografia, desconheço, mas seria incrível que, em pleno século XXI, na era da informação, as decisões judiciais de qualquer natureza tivessem como orientação a distância entre o Tribunal e o endereço das partes interessadas...”

Mas afora esse chilique de inveja da cidade maravilhosa, a imprensa paulista tentou, com argumentos falsos, jogar os torcedores contra a Justiça Desportiva afirmando que o Fluminense estava sendo beneficiado pelo “tapetão” do STJD “carioca”. Sem dúvida uma atitude irresponsável da mídia, pois isso, poderia culminar em revolta e violência por parte dos torcedores.

O principal álibi da mídia foi repercutir a defesa dos advogados da Portuguesa que sustentaram, entre outros argumentos, que o Clube não fora intimado da punição do atleta Héverton pela Comissão Disciplinar, e que o BID (Boletim Informativo Diário), que é alimentado pela CBF, não constava a suspensão do mesmo, após o primeiro julgamento.

No entanto, a imprensa, como sempre, pautou suas matérias considerando apenas o lado que lhe interessava, no caso, a Portuguesa, clube de São Paulo, esquecendo de buscar outras informações, como por exemplo, na fonte principal que é o CBDF, que no seu artigo 133 prevê, in verbis: “Art. 133 - Proclamado o resultado do julgamento, a decisão produzirá efeitos imediatamente, independentemente de publicação ou da presença das partes ou de seus procuradores, (grifo nosso) desde que regularmente intimados para a sessão de julgamento, salvo na hipótese de decisão condenatória, cujos efeitos produzir-se-ão a partir do dia seguinte à proclamação”.

A propósito, comentando tal dispositivo Paulo Marcos Schmith, Procurador-geral do STJD, assevera: “ As decisões resultante dos julgamentos dos processos disciplinares produzem efeitos imediatos. Isso é, devem ser cumpridas tão logo seja oficializados e anunciado o resultado da sessão. A publicação da decisão não é condição indispensável para que a decisão deva ser cumprida, já que presume-se que o denunciado tem conhecimento do seu conteúdo, pessoalmente ou através de procurador, desde que tenha sido regularmente citado e intimado da sessão”

Portanto, esse dispositivo por si só, joga por terra os argumentos da defesa e da mídia paulista de que não houve intimação da sentença, além do que, vale informar que o advogado da Portuguesa estava presente no julgamento no qual o atleta fora suspenso por dois jogos. Assim, não há que se falar em “tapetão”, ao contrário, ele existiria se a lei não fosse cumprida.

Por fim, registramos que não concordamos que as decisões esportivas sejam resolvidas pela Justiça, o ideal seria que fossem durante as disputas, mas como na vida as vezes temos que recorrer à Justiça para dirimir uma questão, assim deve ser, também, nos esportes, e que bom termos essa Justiça Desportiva que prima pela legalidade, pelo contraditório e pelo devido processo legal, ao contrário de outrora, quando essas decisões eram tomadas por critérios políticos e por votos desportivos, e não raras vezes, ao arrepio da lei. Parabéns ao STJD pelas decisões...!


sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

A GENTE NUNCA PERDE POR SER LEGÍTIMO, MAS QUEM CONTA A HISTÓRIA SÃO OS VENCEDORES, NÃO ESQUEÇAM!

Reproduzimos abaixo um importante e lúcido texto de Hildegard Angel, publicado em seu blog:

"O fascismo se expande hoje nas mídias sociais, forte e feioso como um espinheiro contorcido, que vai se estendendo, engrossando o tronco, ampliando os ramos, envolvendo incautos, os jovens principalmente, e sufocando os argumentos que surgem, com seu modo truculento de ser.
Para isso, utiliza-se de falsas informações, distorções de fatos, episódios, números e estatísticas, da História recente e da remota, sem o menor pudor ou comprometimento com a verdade, a não ser com seu compromisso de dar conta de um Projeto.

Sim, um Projeto moldado na mesma forma que produziu 1964, que, os minimamente informados sabem, foi fruto de um bem urdido plano, levando uma fatia da população brasileira, a crédula classe média, a um processo de coletiva histeria, de programado pânico, no receio de que o país fosse invadido por malvados de um fictício Exército Vermelho, que lhes tomaria os bens e as casas, mataria suas criancinhas, lhes tiraria a liberdade de ir, vir e até a de escolher.

Assim, a chamada elite, que na época formava opinião sobre a classe média mais baixa e mantinha um “cabresto de opinião” sobre seus assalariados, foi às ruas com as marchas católicas engrossadas pelos seus serviçais ao lado das bem intencionadas madames.
Elas mais tarde muito se arrependeram, ao constatar o quanto contribuíram para mergulhar o país nos horrores de maldades medievais.

Agora, os mesmos coroados, arquitetos de tudo aquilo, voltam a agir da mesma forma e reescrevem aquele conto de horror, fazendo do mocinho bandido e do bandido mocinho, de seu jeito, pois a História, meus amores, é contada pelos vencedores. E eles venceram. Eles sempre vencem.
Sim, leitores, compreendo quando me chamam de “esquerdista retardatária” ou coisa parecida. Esse meu impulso, certamente tardio, eu até diria sabiamente tardio, preservou-me a vida para hoje falar, quando tantos agora se calam; para agir e atuar pela campanha de Dilma, nos primórdios do primeiro turno, quando todos se escondiam, desviavam os olhos, eram reticentes, não declaravam votos, não atendiam aos telefonemas, não aceitavam convites.

Essa minha coragem, como alguns denominam, de apoiar José Dirceu, que de fato sequer meu amigo era, e de me aprofundar nos meandros da AP 470, a ponto de concluir que não se trata de “mensalão”, conforme a mídia a rotula, mas de “mentirão – royalties para mim, em pronunciamento na ABI – eu, a tímida, medrosa, reticente “Hildezinha”, ousando pronunciamentos na ABI! O que terá dado nela? O que terá se operado em mim?

Esse extemporâneo destemor teve uma irrefreável motivação: o medo maior do que o meu medo. Medo da Sombra de 64. Pânico superior àquele que me congelou durante uma década ou mais, que paralisou meu pensamento, bloqueou minha percepção, a inteligência até, cegou qualquer possibilidade de reação, em nome talvez de não deixar sequer uma fresta, passagem mínima de oxigênio que fosse à minha consciência, pois me custaria tal dor na alma, tal desespero, tamanha infelicidade, noção de impotência absoluta e desesperança, perceber a face verdadeira da Humanidade, o rosto real daqueles que aprendi a amar, a confiar…

Não, eu não suportaria respirar o mesmo ar, este ar não poderia invadir os meus pulmões, bombear o meu coração, chegar ao meu cérebro. Eu sucumbiria à dor de constatar que não era nada daquilo que sempre me foi dito pelos meus, minha família, que desde sempre me foi ensinado. O princípio e mandamento de que a gente pode neutralizar o mal com o bem. Eu acreditava tão intensamente e ingenuamente no encanto da bondade, que seguia como se flutuasse sobre a nojeira, sem percebê-la, sem pisar nela, como se pisasse em flores.

E aí, passadas as tragédias, vividas e sentidas todas elas em nossas carnes, histórias e mentes, porém não esquecidas, viradas as páginas, amenizado o tempo, quando testemunhei o início daquela operação midiática monumental, desproporcional, como se tanques de guerra, uma infantaria inteira, bateria de canhões, frotas aérea e marítima combatessem um único mortal, José Dirceu, tentando destrui-lo, eu percebi esgueirar-se sobre a nossa tão suada democracia a Sombra de 64!

Era o início do Projeto tramado para desqualificar a luta heroica daqueles jovens martirizados, trucidados e mortos por Eles, o establishment sem nomes e sem rostos, que lastreou a Ditadura, cuja conta os militares pagaram sozinhos. Mas eles não estiveram sozinhos.

Isso não podia ser, não fazia sentido assistir a esse massacre impassível. Decidi apoiar José Dirceu. Fiz um jantar de apoio a ele em casa, Chamei pessoas importantes, algumas que pouco conhecia. Cientistas políticos, jornalistas de Brasília, homens da esquerda, do centro, petistas, companheiros de Stuart do MR8, religiosos, artistas engajados. Muitos vieram, muitos declinaram. Foi uma reunião importante. A primeira em torno dele, uma das raras. Porém não a única. E disso muito me orgulho.

Um colunista amigo, muito importante, estupefato talvez com minha “audácia” (ou, quem sabe, penalizado), teve o cuidado de me telefonar na véspera, perguntando-me gentilmente se eu não me incomodava de ele publicar no jornal que eu faria o jantar. “Ao contrário – eu disse – faço questão”.
Ele sabia que, a partir daquele momento, eu estaria atravessando o meu Rubicão. Teria um preço a pagar por isso.

Lembrei-me de uma frase de minha mãe: “A gente nunca perde por ser legítima”. Ela se referia à moda que praticava. Adaptei-a à minha vida.

No início da campanha eleitoral Serra x Dilma, ao ler aqueles sórdidos emails baixaria que invadiam minha caixa, percebi com maior intensidade a Sombra de 64 se adensando sobre nosso país.

Rapidamente a Sombra ganhou corpo, se alastrou e, com eficiência, ampliou-se nestes anos, alcançando seu auge neste 2013, instaurando no país o clima inquisitorial daquela época passada, com jovens e velhos fundamentalistas assombrando o Facebook e o Twitter. Revivals da TFP, inspirando Ku Klux Klan, macartismo e todas as variações de fanatismo de direita.

É o Projeto do Mal de 64, de novo, ganhando corpo. O mesmo espinheiro das florestas de rainhas más, que enclausuram príncipes, princesas, duendes, robin hoods, elfos e anõezinhos.

Para alguns, imagens toscas de contos de fadas. Para mim, que vi meu pai americano sustentar orfanato de crianças brasileiras produzindo anõezinhos de Branca de Neve de jardim, e depois uma Bruxa Má, a Ditadura, vir e levar para sempre o nosso príncipe encantado, torturando-o em espinheiros e jamais devolvendo seu corpo esfolado, abandonado em paradeiro não sabido, trata-se de um conto trágico, eternamente real.

Como disse minha mãe, e escreveu a lápis em carta que entregou a Chico Buarque às vésperas de ser assassinada: “Estejam certos de que não estou vendo fantasmas”.
Feliz Ano Novo.

Inclusive para aqueles injustamente enclausurados e cujas penas não estão sendo cumpridas de acordo com as sentenças.

É o que desejo do fundo de meu coração".

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

O RACISMO MIDIÁTICO E AS ELITES

Para uma boa reflexão reproduzimos o ótimo texto de Dennis de Oliveira, publicado na Revista Fórum:

Entre o final do século XIX e início do século XX, o racismo no Brasil travestiu-se de um discurso pretensamente científico ao importar as ideias das teorias da eugenia e da antropologia criminal, que eram fortemente presentes nos círculos intelectuais daqui. E foram ressignificadas. A teoria da eugenia prega a separação entre “raças”, afirmando que a mestiçagem produz um tipo degradado de ser humano. É a base de políticas segregacionistas, como o apartheid.

No Brasil, a teoria foi adaptada à circunstância de ser uma nação com maioria de população negra. Aí houve a adaptação para o “branqueamento”, a ideia de que a mestiçagem seria uma política “limpa” de faxina étnica. O diretor do Museu Nacional do Rio de Janeiro João Batista de Lacerda apresentou essa “solução brasileira” no Congresso Internacional das Raças de 1911, em Londres, como uma medida eficaz para a limpeza étnica, silenciosa e sem confrontos.

A mestiçagem foi novamente tratada, dessa vez como singularidade nacional, na obra de Gilberto Freyre, em Casa Grande e Senzala. E dessa vez não como uma solução de limpeza étnica, mas como símbolo de uma tolerância racial tipicamente brasileira que deu base à ideia da democracia racial. Freyre teve o mérito de deslocar o conceito de raça da biologia e colocá-la como categoria das ciên­cias antropológicas.

O que se percebe nessas experiências é que o racismo foi uma ideia discutida no campo das ciências. Foucault, em Microfísica do poder, fala que o racismo não surgiu como uma “ideologia política”, mas como uma “ideo­logia científica”. Isso é importante para que percebamos que o racismo é um discurso que tem uma lógica e é racional. Não se trata apenas de deturpação ou de ignorância (embora alguns racistas efetivamente tenham isso), mas de uma narrativa sofisticada e articulada. Por isso, ele persiste no imaginário de muitas pessoas, penetra nas instituições e estrutura as relações sociais do país, por mais que o movimento antirracista denuncie e tenha algumas vitórias no campo legal e normativo.

Os principais sujeitos do racismo científico são as elites intelectuais. Foi no campo acadêmico que ele se estruturou e a legitimidade dessa elite intelectual possibilitou a sua disseminação como narrativa ideológica. Partilharam desse discurso personalidades importantes na intelectualidade brasileira, algumas até próximas a propostas nacionalistas e progressistas, como o escritor Monteiro Lobato e o educador Anísio Teixeira, simpatizantes e até militantes da causa da eugenia.

O que percebemos atualmente é que a legitimidade do discurso racista vai paulatinamente se deslocando da esfera acadêmica para a midiática. São as elites logotécnicas, conceito de Muniz Sodré para definir o campo de profissionais que operam a indústria imagética e midiática, que operam o novo discurso racista. Novo porque o campo da indústria imagética é distinto da academia. Na academia, o elemento ideológico é a razão instrumental. Na indústria imagética, a visibilidade e a celebridade.

O caso recente do personagem da novela Amor à vida, que é uma criança negra adotada por um casal de classe média alta, é um exemplo disso. A criança negra terá os seus cabelos cortados porque o autor da novela – Walcyr Carrasco – diz que uma família rica que adotasse uma criança negra “faria isso” e que “quer um personagem que seja aceito”, ignorando que um ator da própria novela, Marcelo Anthony, tem uma criança negra adotada sem ter o cabelo raspado. Irritado com as críticas, ameaçou ainda que, se não ficarem satisfeitos, tira o personagem, e ponto.

Por diversas vezes, o movimento negro reivindicou cotas de participação de negros e negras nas produções midiáticas de ficção e publicidade, reivindicação sempre rejeitada pelos membros da elite logotécnica, sob a alegação que isso iria ferir a “liberdade de criação” do autor. Como se essa liberdade de criação não estivesse submetida às lógicas do capital que emprega tais autores.

O racismo midiático é uma das novas fronteiras de enfrentamento do movimento antirracista. E também uma das mais difíceis. Porém, conforme se observa em todos os outros campos da luta social, a democratização plena não acontecerá sem a democratização total da mídia.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

A IMPLACÁVEL CAÇADA AO PRESIDENTE LULA - PARTE II

"No jornalismo, não há fibrose. O tecido atingido pela calúnia não se regenera. As feridas abertas pela difamação não cicatrizam. A retratação nunca tem o mesmo espaço das acusações". (Felipe Alves)

Já escrevemos nesse espaço textos comentando a abjeta e implacável perseguição da mídia nativa e da oposição conservadora ao ex-presidente Lula.

Essa verdadeira caçada teve inicio com a posse do Presidente Lula em 2003. A princípio se pensava que essa hostilidade fosse política, mas com o passar do tempo, e mesmo depois de findado o seu mandato com uma extraordinária aprovação popular de 85%, os seus algozes continuam tentando derrotá-lo politica e pessoalmente, inclusive, com ataques preconceituosos contra a sua pessoa.

Um exemplo claro dessa implacável caçada vem da revista “Veja”, que por meio do niilismo, ódio e do preconceito concentra seus ataques no ex-presidente Lula, que, aliás, se tornou a caça predileta dos barões da mídia, não sendo poupado nem mesmo na fase mais crítica de sua vida, quando foi acometido com o câncer em sua laringe.

E tudo indica que essa perseguição não terá um fim. O último ataque veio com uma entrevista do Delegado Romeu Tuma Júnior à revista “Veja” na qual ele noticia o lançamento de um livro bomba acusando o ex-presidente Lula de ser um informante do Delegado Romeu Tuma, quando o mesmo comandava o DOPS, ou seja, segundo “Tuminha” Lula foi um dos “dedos duros” da ditadura militar.

Evidente que essa acusação não se sustenta, pois, está atrelada a uma atitude rancorosa e vingativa do Delgado Romeu Tuma Júnior que fora exoneração do cargo de Secretário Nacional do Ministério da Justiça, no governo Lula, por conta de uma imputação do seu envolvimento com um cidadão Chinês acusado de contrabando.

Mas assim como de outras vezes, a denúncia nos parece que não passa de uma mera ilação politiqueira com o propósito de atingir o ex-presidente Lula. Aliás, um incontestável argumento a favor de Lula foi mencionado pelo jornalista Paulo Moreira Leite, que em seu blog citou o livro “O que eu sei de Lula”, de autoria do também jornalista José Nêumane Pinto, um conhecido âncora conservador e declaradamente antepetista. Segundo Paulo Moreira, “... Nêumane conta que levou Lula para uma conversa com o coronel Gilberto Zenkner, nome importante na área de informações, que procurava infiltrar-se entre os metalúrgicos do ABC, liderados por Lula. Testemunha integral do encontro, Nêumane deixa claro que Lula não deixou o interlocutor avançar um milímetro na conversa assim que foi possível perceber suas reais intenções. “Nada foi dito que desabonasse sua condição de legítimo e leal representante dos interesses do operariado,” escreve Nêumane, na pagina 135...”

Outro argumento esclarecedor foi citado pelo jornalista Mino Carta, que disse: “...Na noite do velório do senador Romeu Tuma, um dos irmãos de Romeu Jr., Rogério, notável neurologista e colaborador de Carta Capital, declarou em entrevista gravada: “Meu pai protegeu Lula porque os agentes da ditadura pretendiam matá-lo”.

Mas mesmo diante dessas e de várias contestações já era de se esperar que a oposição não perderia esse gancho. E dessa vez coube ao Deputado Federal Roberto Freire repercutir a acusação do “Tuminha”. O nobre Deputado de maneira odiosa, vingativa e com um ressentimento típico dos esquerdistas que jogaram na lata de lixo os seus ideais, teve o desplante de solicitar à Comissão da Verdade que investigue o ex-presidente Lula pela suspeita de ser informante da ditadura. Uma atitude meramente politiqueira, caluniosa e abjeta!

A propósito, comentando essa atitude do Deputado Freire, buscamos uma vez mais a brilhante leitura que o jornalista Paulo Moreira Leite fez desse episódio. Diz o jornalista: “...Já tivemos comunistas stalinistas, trotskistas, maoístas, castristas.... Hoje, temos os ressentidos. Deformados por uma visão dogmática e estreita da evolução humana, incapazes de enxergar oportunidades diferentes e caminhos inéditos para seguir no esforço pelo progresso dos mais humildes e excluídos, aceitaram o papel de novos reacionários, transportando uma herança com muitos aspectos admiráveis para qualquer palanque onde tivessem direito a pão, água e um punhado de empreguinhos. Sua função era justamente essa: empregar o passado a esquerda para servir como tacape da direita, tentando negar toda e qualquer possibilidade de contestação a velha ordem mundial”.

Diante desse lamaçal politiqueiro chegamos à conclusão de que o vaticínio de Nelson Rodrigues pode concretizar-se: o mundo está caminhando para a revolução dos “cretinos fundamentais”. E aqui no Brasil eles são facilmente identificáveis: os barões da mídia, os “coxinhas” de plantão e a elite conservadora do país.


segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

AMIGO(A)S FELIZ NATAL.....


sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

MÍDIA E PSDB NOTICIAM: PETROBRAS TEM “32% DE CHANCES DE FALIR”. É? ENTÃO A VALE TEM 59%. QUE BURROS!

Conversa Afiada reproduz artigo de Fernando Brito, extraído do Tijolaço:

A irresponsabilidade da imprensa para com a Petrobras só não é maior que seu ódio pela empresa.

E, acabo me convencendo, que a sua burrice e despreparo.

Boa parte dos sites de economia está publicando a asneira do ano e, claro, o PSDB, idiota, foi atrás e tascou no seu site.
É a notícia de que a Petrobras tem 32% de chances de falir nos próximos dois anos, segundo “um estudo” da consultoria Macroaxis.

Não há estudo algum, seus patetas!

A Macroaxis é apenas um site de “cálculos de investimento” automatizado, que pega dados financeiros brutos, aplica uma fórmula e “tira conclusões”. Uma “maquininha” de previsões que pega o sobe e desce das ações e projeta mecanicamente.

E chega a conclusões, obviamente, burras.

Menos burras, claro, que quem as divulga dessa forma.

A história é a seguinte:

Há um brasileiro que “contribui” com a Forbes, como centenas que escrevem em seu site. Antunes, um “famous who”, que se divertiu ano passado fazendo um texto sobre as possibilidades de Neymar, gastando demais, falir.

Este ano, descobriu o site Macroaxis e foi buscar entretenimento calculando as possibilidades de falência da Petrobras, certo de que bater na estatal brasileira é porta de entrada escancarada para obter espaço na mídia.

E os “complexo de vira-lata” copiam tudo o que sai na Forbes…

Bom, este modesto blogueiro aqui, descobrindo como foi feito o tal “estudo da consultoria Macroaxis”, pensou, simplório como é: pau que dá em Chico, dá em Francisco.

Inscreveu-se no site e pediu para calcular as possibilidades de a Vale, maior mineradora do mundo,  falir.

Não deu outra: 59% de chances de falência nos próximos dois anos! Está lá em cima a imagem e o amigo e a amiga podem fazer os cálculos na página brincadeirinha financeira, que nem sequer o nome da equipe ou dos dirigentes da “empresa” traz.

Que ridículo!

E que imbecis os meus colegas de profissão que dão “notícias” baseados numa baboseira destas.

Tomara que nenhum chefe de família que tenha posto um dinheirinho em ações da Petrobras, ao ler, tenha saído correndo para vender.

Estes palhaços fazem isso com a maior empresa brasileira, responsável pela extração do mar de riquezas que a providência nos deu no pré-sal.

E se dizem jornalistas de economia. Ah, e os tucanos, gente que entende de negócios.

Palermas.





SONEGAÇÃO NO BRASIL É 20 VEZES MAIOR QUE GASTO COM BOLSA FAMÍLIA, DIZ SINPROFAZ

Saiu na Agência Brasil,  reproduzido no sítio coversaafiada.com.br


Brasília – A sonegação no Brasil é 20 vezes maior do que o valor gasto com o Programa Bolsa Família. O cálculo é do Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional (Sinprofaz), que volta a exibir hoje (11), em Brasília, o Sonegômetro, para mostrar os prejuízos que o país tem com a sonegação.

O placar, online, indica que a sonegação fiscal no Brasil está prestes a ultrapassar a casa dos R$ 400 bilhões. Desenvolvido pelo Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional (Sinprofaz), o Sonegômetro apresenta, em tempo real, o quanto o país deixa de arrecadar todos os dias.

Para o presidente do Sinprofaz, Heráclio Camargo, a sonegação caminha em conjunto com a corrupção. “A sonegação e a corrupção caminham juntas porque a corrupção precisa do dinheiro da sonegação para financiar as campanhas de políticos inescrupulosos e fomentar o círculo vicioso da lavagem de dinheiro”, disse ele.

“Infelizmente, o Brasil é leniente”, ressaltou Camargo, porque permite a inscrição, com o Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ), de empresas localizadas em paraísos fiscais. Segundo o presidente do Sinprofaz, basta procurar em todos os jornais, em notícias recentes  e em todas as operações da Polícia Federal.

“É só observar que, em todos os mensalões de todos os partidos, usam-se mecanismos sofisticados de lavagem de dinheiro, e o governo federal não muda essa sistemática de permitir que empresas instaladas em paraísos fiscais sejam donas de hotéis, de restaurantes. São negócios que têm uma fachada lícita, mas muitos deles servem para lavar dinheiro”, reclamou.  

Nos cálculos feitos por Camargo, R$ 400 bilhões representam aproximadamente 10% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riqueza produzidas no país), 25% do que é arrecadado.  É 20 vezes mais do que se gasta com o Bolsa Família. De acordo com Camargo, mesmo com os questionamentos sobre esse programa, ele é benéfico para a economia, pois os recursos dele criam um circulo “virtuoso” da economia local. “Imagine se pegássemos 20 vezes esse valor e investíssemos em saneamento básico, na melhoria dos salário dos professores e na estruturação das carreiras de Estado. Seria um outro país, com R$ 400 bilhões a mais do que temos agora.”

Isso sem contar os valores da dívida ativa, que está em R$ 1,4  trilhão, acrescentou Heráclio. Ele destacou que os procuradores sequer têm um servidor de apoio por procurador, enquanto os juízes têm de 15 a 20 servidores. “Os culpados pelo sucateamento da Procuradoria da Fazenda Nacional são o Ministério da Fazenda e a Advocacia-Geral da União.” Para ele, é importante que a sociedade cobre, pois existem 300 vagas em aberto para a carreira de procurador e não há, também, carreira de apoio para combater o que ele considera “sonegação brutal” [R$ 400 bilhões] e tentar arrecadar melhor essa dívida de R$ 1,4 trilhão.

“São quase R$ 2 trilhões que estão aí para ser cobrados, e o governo pune os mais pobres e a classe média com uma tributação indireta alta e, notadamente, com a contrapartida baixa que é dada pelo Estado brasileiro, afirmou.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

DEZ ANOS VENCENDO A FOME

Midia & Política reproduz artigo do ex-presidente Lula publicado no "El País":


"Há algumas semanas, o Brasil celebrou o décimo aniversário do Bolsa Família, que serviu de modelo para muitos programas novos de distribuição de renda em todo o mundo.
Graças ao programa Bolsa Família, 14 milhões de famílias, ou seja, 50 milhões de pessoas — um quarto da população do Brasil— recebem um pequeno valor mensal, contanto que cumpram alguns requisitos básicos, entre eles, que os filhos permaneçam escolarizados e recebam atenção médica, incluídas as vacinações normais. Mais de 90% do dinheiro que se paga vai para as mãos das mães. Na década decorrida desde que começou o programa, o rendimento acadêmico dos meninos melhorou, as taxas de mortalidade infantil caíram e 36 milhões de pessoas saíram da pobreza extrema.

As cifras são eloquentes, e, no entanto, não bastam para transmitir até que ponto melhoraram as vidas de todas essas pessoas.

Não há uma estatística capaz de medir a dignidade, mas isso é o que se percebe quando os pais podem oferecer a seus filhos três refeições diárias. Não há uma parte do orçamento que se chame “esperança”, mas isso é o que brota quando os pais veem que seus filhos vão à escola e se esforçam para ter um futuro melhor.

Ao transformar a vida das pessoas, o Bolsa Família está mudando o curso da história em meu país; segundo as Nações Unidas, esse é o maior programa de distribuição de rendas do mundo. Outros Governos adotaram estratégias similares para lutar contra a fome. Por isso, é importante entender o sucesso do Brasil e os obstáculos que foram enfrentados para colocar o programa em prática.

Como em muitos outros países de América Latina, a África e a Ásia, o Brasil esteve durante muito tempo governado em nome de uma pequena minoria, a classe dirigente. O resto dos brasileiros, a grande maioria, eram praticamente invisíveis e viviam em um não país que ignorava seus direitos e lhes negava todas as oportunidades.

A primeira coisa que fizemos para mudar a situação foi colocar em prática uma série de políticas sociais que, junto ao incremento do salário mínimo e a um maior acesso aos empréstimos bancários, estimularam a economia e permitiram a criação de 20 milhões de postos de trabalho legais nos últimos 10 anos. Dessa forma, a maioria da população foi integrada à economia e à sociedade no Brasil.

O Bolsa Família contribuiu para demonstrar que é possível erradicar a fome quando os Governos têm a vontade política necessária para colocar os pobres ao centro de suas iniciativas. Muitos pensaram que era um objetivo utópico. Talvez não tenham compreendido que isso era absolutamente necessário para que o nosso país voltasse a se situar na rota para o desenvolvimento.

Alguns disseram de boa fé que, para combater a fome, as famílias tinham que receber alimentos, e não dinheiro. Mas ter alimentos não é o suficiente para terminar com a fome. Faz falta uma geladeira para armazenar a comida e um fogão e gás para cozinhá-la. E as pessoas, além disso, precisam se vestir, cuidar de sua higiene pessoal e limpar seu lar. As famílias não precisam que o Governo lhes diga o que devem fazer com seu dinheiro. Elas sabem quais são suas prioridades.

Ainda hoje, algumas reações ao Bolsa Família provam que é mais difícil vencer os preconceitos do que acabar com a fome. Os mais mesquinhos acusam o programa de fomentar a indolência. É uma forma de dizer que os pobres são pobres porque não quiseram melhorar sua situação, não porque nunca tiveram oportunidades para conseguir. Esse tipo de atitude deposita sobre os ombros a responsabilidade de um abismo social que não favorece mais que aos ricos.

É verdadeiro que mais de 70% dos adultos inscritos no Bolsa Família trabalham com regularidade, e o programa serve como complemento de suas rendas. o Bolsa Família converteu-se em um instrumento que os pais utilizam para começar a romper a espiral de pobreza na qual se encontram seus filhos.

Os críticos compararam os programas de distribuição de renda com esmolas, com um mero exercício de caridade. Só pode dizer algo assim quem nunca viu um menino desnutrido, nem a angústia de sua mãe diante de um prato vazio. Para a mãe que recebe as ajudas do programa, o dinheiro que lhe permite alimentar seus filhos não é uma esmola; é seu direito como cidadã, e ela não vai renunciar a ele.

Em longo prazo, o Bolsa Família tem uma consequência a mais: dá aos pobres o poder. As pessoas que têm garantida por lei a uma renda mínima não precisam pedir favores a ninguém. Não precisam dar seu voto em troca de comida ou de um par de sapatos, como ocorria com frequência nas regiões mais pobres do Brasil. Pelo contrário, essas pessoas agora são livres, e isso nem sempre é conveniente para todos.

Ainda assim, alguns detratores criticaram o programa por incrementar a despesa pública. São os mesmos que costumam dizer que baixar os salários e destruir emprego são coisas positivas para a economia. Mas o dinheiro público que se destina às pessoas, à previdência e à educação não é uma despesa; é um investimento. O investimento no Bolsa Família está na raiz do crescimento do país.

Para cada real (0,3 euros) investido no programa, o PIB cresceu 1,78 reais, segundo os cálculos do Governo brasileiro. O Bolsa Família estimula a atividade econômica e a produção dos bens que as famílias compram. Colocar muito dinheiro nas mãos de uns poucos não serve mais que para alimentar a especulação financeira e agravar a concentração de rendas e riquezas. O Bolsa Família demonstrou que um pouco de dinheiro em muitas mãos serve para alimentar as pessoas, estimular o comércio, atrair investimentos e criar emprego.

O orçamento do Bolsa Família para este ano é de 24.000 milhões de reais, cerca de 7.500 milhões de euros. Menos de 0,5% do PIB do Brasil. Alguns cálculos indicam que os Estados Unidos e a União Europeia, juntos, gastaram desde 2008 cerca de 10 bilhões de dólares (7,3 bilhões de euros) para resgatar bancos com problemas. Uma pequena parte dessa quantidade, investida em programas como o Bolsa Família, poderia acabar com a fome no mundo e reativar a economia mundial para iniciar uma nova era de prosperidade.

Por sorte, vários países escolheram a luta contra a pobreza como rota para o desenvolvimento. Já é hora de que as organizações multilaterais deem fôlego a essas iniciativas, promovendo o intercâmbio de conhecimentos e o estudo de estratégias de distribuição de rendas que tenha sucesso. Essa seria uma boa forma de dar impulso à derrota da fome no mundo".

"Luiz Inácio Lula da Silva foi presidente do Brasil e hoje trabalha em iniciativas de alcance mundial com o Instituto Lula."

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

UMA JUSTIÇA SEM VENDA, SEM BALANÇA E SÓ COM ESPADA?

Um primor de texto do Teólogo Leonardo Boff, que vale muito reproduzi-lo...!

Tradicionalmente a Justiça é representada por uma estátua que tem os olhos vendados para simbolizar a imparcialidade e a objetividade; a balança, a ponderação e a equidade; e a espada, a força e a coerção para impor o veredito.

Ao analisarmos o longo processo da Ação Penal 470, que julgou os envolvidos na dita compra de votos para os projetos do governo do PT, dentro de uma montada espetacularização mediática, notáveis juristas, de várias tendências, criticaram a falta de isenção e o caráter político do julgamento.

Não vamos entrar no mérito da Ação Penal 470 que acusou 40 pessoas. Admitamos que houve crimes, sujeitos às penas da lei. Mas todo processo judicial deve respeitar as duas regras básicas do direito: a presunção da inocência e, em caso de dúvida, esta deve favorecer o réu.

Em outras palavras, ninguém pode ser condenado senão mediante provas materiais consistentes; não pode ser por indícios e ilações. Se persistir a dúvida, o réu é beneficiado para evitar condenações injustas. A Justiça como instituição, desde tempos imemoriais, foi estatuída exatamente para evitar que o justiçamento fosse feito pelas próprias mãos e inocentes fossem injustamente condenados, mas sempre no respeito a estes dois princípios fundantes.

Parece não ter prevalecido, em alguns Ministros de nossa Corte Suprema, esta norma básica do Direito Universal. Não sou eu quem o diz mas notáveis juristas de várias procedências. Valho-me de dois de notório saber e pela alta respeitabilidade que granjearam entre seus pares. Deixo de citar as críticas do notável jurista Tarso Genro por ser do PT e Governador do Rio Grande do Sul.

O primeiro é Ives Gandra Martins, 88 anos, jurista, autor de dezenas de livros, Professor do Mackenzie, do Estado Maior do Exército e da Escola Superior de Guerra. Politicamente se situa no pólo oposto ao PT sem sacrificar em nada seu espírito de isenção. No dia 22 de setembro de 2013 na FSP, numa entrevista à Mônica Bérgamo, disse claramente com referência à condenação de José Dirceu por formação de quadrilha: todo o processo lido por mim não contém nenhuma prova. A condenação se fez por indícios e deduções com a utilização de uma categoria jurídica questionável, utilizada no tempo do nazismo, a “teoria do domínio do fato.” José Dirceu, pela função que exercia, “deveria saber”. Dispensando as provas materiais e negando o princípio da presunção de inocência e do “in dubio pro reo”, foi enquadrado na tal teoria. Claus Roxin, jurista alemão que se aprofundou nesta teoria, em entrevista à FSP de 11/11/2013, alertou para o erro de o STF tê-la aplicado sem amparo em provas. De forma displicente, a Ministra Rosa Weber disse em seu voto:”Não tenho prova cabal contra Dirceu – mas vou condená-lo porque a literatura jurídica me permite”. Qual literatura jurídica? A dos nazistas ou do notável jurista do nazismo Carl Schmitt? Pode uma juíza do Supremo Tribunal Federal se permitir tal leviandade ético-jurídica?

Gandra é contundente: “Se eu tiver a prova material do crime, não preciso da teoria do domínio do fato para condenar”. Essa prova foi desprezada. Os juízes ficaram nos indícios e nas deduções. Adverte para a “monumental insegurança jurídica” que pode a partir de agora vigorar. Se algum subalterno de um diretor cometer um crime qualquer e acusar o diretor, a este se aplica a “teoria do domínio do fato” porque “deveria saber”. Basta esta acusação para condená-lo.

Outro notável é o jurista [Celso] Antônio Bandeira de Mello, 77, professor da PUC-SP, na mesma FSP do dia 22/11/2013. Assevera: “Esse julgamento foi viciado do começo ao fim. As condenações foram políticas. Foram feitas porque a mídia determinou. Na verdade, o Supremo funcionou como a longa manus da mídia. Foi um ponto fora da curva”.

Escandalosa e autocrática, sem consultar seus pares, foi a determinação do Ministro Joaquim Barbosa. Em princípio, os condenados deveriam cumprir a pena o mais próximo possível das residências deles. “Se eu fosse do PT” – diz Bandeira de Mello – “ou da família pediria que o presidente do Supremo fosse processado. Ele parece mais partidário do que um homem isento”. Escolheu o dia 15 de novembro, feriado nacional, para transportar para Brasília, de forma aparatosa, num avião militar, os presos, acorrentados e proibidos de se comunicar. José Genoíno, doente e desaconselhado de voar, podia correr risco de vida. Colocou a todos em prisão fechada mesmo aqueles que estariam em prisão semi-aberta. Ilegalmente prendeu-os antes de concluir o processo com a análise dos “embargos infringentes”.

O animus condemnandi (a vontade de condenar) e de atingir letalmente o PT é inegável nas atitudes açodadas e irritadiças do Ministro Barbosa. E nós tivemos ainda que defendê-lo contra tantos preconceitos que de muitas partes ouvimos pelo fato de sua ascendência afro brasileira. Contra isso afirmo sempre: “somos todos africanos”porque foi lá que irrompemos como espécie humana. Mas não endossamos as arbitrariedades deste Ministro culto mas raivoso. Com o Ministro Barbosa a Justiça ficou sem a venda porque não foi imparcial, aboliu a balança porque ele não foi equilibrado. Só usou a espada para punir mesmo contra os princípios do direito. Não honra seu cargo e apequena a mais alta instância jurídica da Nação.


Ele, como diz São Paulo aos Romanos: “aprisionou a verdade na injustiça” (1,18). A frase completa do Apóstolo, considero-a dura demais para ser aplicada ao Ministro.