"É triste pensar que a natureza fala o que o gênero humano não houve".
Victor Hugo
Victor Hugo
Dois importantes debates dominam o cenário da política brasileira e as manchetes da grande imprensa nesses últimos dias: de um lado a CPMI do “Cachoeira e Revista “Veja”, e de outro o veto da Presidenta Dilma às alterações realizadas no Código Florestal pela Câmara dos Deputados.
Somos
sabedores que os Deputados são os legítimos representantes do povo brasileiro
no Parlamento. Por outro lado, sabemos que esses Deputados representam também,
vários setores da sociedade, tanto, que estão divididos na Câmara dos
Deputados, por várias bancadas suprapartidárias, como por exemplo, as poderosas
bancadas empresarial, ruralista, evangélica, sindicalista, entre outras.
Nestes
últimos dias acompanhamos nos noticiários o poder dessas bancadas,
especialmente, dos ruralistas que somam 273 Deputados. Esse bloco, com o apoio
de outros parlamentares, e visando apenas os seus interesses, dos grandes
latifundiários e do agronegócio, conseguiu
aprovar várias emendas ao Código Florestal, mutilando por completo, o Projeto
aprovado no Senado.
Entre
os dispositivos alterados pelos ruralistas e aprovados pela Câmara dos
Deputados, destacamos os seguintes: anistia geral aos
desmatadores de Reservas Legais e Áreas de Preservação Permanente; a
redução da área da Reserva Legal no Cerrado de 50% para 20%; redução da área de
Reserva Legal da Amazônia de 80% para 50%; considerar como Reserva Legal ou
como "status" de vegetação nativa, o reflorestamento com eucaliptos, pinus, e ainda plantios de manga,
côco, limão ou outras culturas; permitir que florestas nativas sejam
convertidas em lavouras nas propriedades mais produtivas, sem qualquer licença
das autoridades ambientais; exploração econômica de florestas e outras formas
de vegetação nas áreas de preservação permanente com realização de construções,
abertura de estradas, canais de derivação de água e ainda atividades de
mineração e garimpo e por fim, o texto exigia apenas a
recuperação da vegetação das APPs nas margens de rios de até 10 metros de largura. Não
previa nenhuma obrigatoriedade de recuperação dessas APPs nas margens de rios
mais largos. .Em suma,
essas foram as principais alterações realizadas no Código Florestal pela Câmara
dos Deputados.
Em
decorrência dessas comprometedoras mudanças, houve uma grande reação dos
ambientalistas, da sociedade brasileira, e do Governo que se viu traído e
surpreso com tamanho despautério.
Traduzindo
esse sentimento, o Senador Aníbal Diniz (PT/AC) disse que...“o governo
esperava um acatamento por parte da Câmara, do relatório do Código Florestal
apresentado pelo Senado, pois os artigos e dispositivos foram discutidos
amplamente com as lideranças da Câmara, e, portanto, não cabia outra atitude
que não fosse a manutenção do texto acordado entre Senado e Câmara.... No
entanto, o que se viu foi um passo atrás e a imposição de derrota ambiental ao
país.
Nesse contexto, e ameaçadas as
premissas do Código Florestal que previa a preservação das florestas e biomas
brasileiros, a produção agrícola sustentável e o atendimento à questão social
sem prejuízo ao meio ambiente, a Presidenta Dilma não pestanejou e vetou os
controvertidos pontos do Projeto. Agora, o próximo passo será o encaminhamento
das razões de veto à Câmara dos Deputados, e a edição de uma Medida Provisória
que, certamente, aperfeiçoará o texto do Código Florestal e resgatará o Projeto
original acordado com as lideranças das duas Casas.
Diante
de tudo isso, resta patente, malgrado a legítima ação da bancada ruralista, que
o Código aprovado pela Câmara dos Deputados foi um retrocesso e uma grande
ameaça ao nosso ecossistema e as gerações futuras. Quanto ao veto, congratulamos
com a Presidenta Dilma, que mais uma vez, honra o compromisso de trabalhar para
que tenhamos uma legislação ambiental moderna, eficaz e que garanta à proteção
do nosso meio ambiente, e ao mesmo tempo, crie condições favoráveis para a
produção agrícola, a segurança e a soberania alimentar e nutricional do Povo
brasileiro. Com a palavra o Congresso Nacional!
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