"Só o inimigo não trai nunca" - Nelson Rodrigues
Recentemente foi publicado nesse
espaço democrático, um texto de nossa autoria com o título: Será o Ministro um
traíra? Naquela oportunidade apresentamos relato da ONG “Wikileaks”,
noticiando que o
Ministro da Defesa, Nelson Jobim teria confidenciado ao Embaixador
Estadunidense, Clifford Sobel, que a política externa brasileira “tem forte
inclinação antinorte-americana”. Revelou ainda ao Diplomata,
quebrando a confiança do Presidente Lula, que o Presidente da Bolívia estava
acometido de uma grave doença. Essas e outras informações renderam ao Ministro
Jobim, regozijos do referido Diplomata, que confidenciou: “Nelson Jobim é “um dos mais confiáveis líderes do Brasil”.
Encerrado
o mandato do Presidente Lula, surpreendentemente, Nelson Jobim, um peemedebista
com alma tucana, continuou no cargo de Ministro da Defesa, malgrado os vários
pronunciamentos e atitudes suspeitas. Mas antes de completar oito meses do
mandato da Presidenta Dilma, o Ministro Nelson Jobim, sem nenhum pudor,
escancarou sua real posição de suspeito para um confesso traidor dos Governos a
que serviu.
Toda
essa trama de “trairagem” teve inicio de forma aberta, durante a festa dos 80
anos de FHC. Nessa oportunidade, Nelson Jobim, numa clara alusão aos Petistas e
outros membros do Governo, citou uma
frase de Nelson Rodrigues sobre os idiotas de um tempo, dizendo: “O que se percebe hoje,
Fernando, é que os
idiotas perderam
a modéstia”.
Após
esse acontecimento, o “nobre” Ministro Jobim, em uma lamentável entrevista ao
jornal “Estadão”, disse a seguinte e gravíssima impropriedade: o fim do sigilo não deve criar polêmica em relação à
ditadura de 1964-1985, pois, “não há documentos [sobre o governo militar]. Nós
já levantamos e não
têm. Os documentos já desapareceram,
foram consumidos à época”.
Não
se pode admitir que um Ministro da Defesa faça uma afirmação dessa natureza sem
nenhuma explicação. Aliás, nesse sentido o jornalista Luiz Cláudio Cunha cobrou do Ministro os seguintes
esclarecimentos:“...quem e como consumiu os documentos relevantes de uma fase decisiva de nossa História,
triturada por delitos administrativos de meliantes fardados
— e ainda anônimos — que cometeram crimes de
lesa-pátria compatíveis com traidores e supremos idiotas”.
Depois
desse fato, o sitio “Sul21” postou uma matéria noticiando que Associação Nacional de História
(Anpuh) tomou conhecimento que o livro
“História do Brasil: Império e República”, de
Aldo Fernandes,
instruir os alunos
do Ensino
Fundamental dos Colégios Militares que o golpe de 1964 foi uma revolução democrática e uma reação
ao comunismo.
Indignado
com essa versão do livro, a Anpuh oficiou o Ministério da Defesa solicitando
explicações. Depois de um ano, o Porta-Voz do Ministério da Defesa respondeu
afirmando que “o livro
que traveste a ditadura de 64 em revolução democrática tem uma
linha didático-pedagógica que atende adequadamente às
necessidades do
ensino da História”. Sem dúvida, uma resposta
berrante, para não dizer comprometedora e com um forte viés de complacência com
os anos de chumbo.
Mas
se tudo isso não bastasse, e para fechar com chave de ouro sua conduta de
traidor, o Ministro Jobim em mais uma desastrosa entrevista, afirmou que votou
em Serra nas duas eleições em que o tucano fora candidato à Presidente.
Evidente,
que o voto é livre. Contudo, exercendo cargo de confiança, Nelson Jobim jamais
deveria ter revelado seu voto. Essa atitude só serviu para constranger a
Presidenta Dilma, seu Partido o PMDB, e por ironia do destino, para comprovar o
que todo mundo desconfiava: sua deslealdade aos governos a que serviu.
Aliás,
nesse mesmo sentido o jornalista Pedro Estevam Serrano, com muita propriedade
escreveu: “....Ora, quando Jobim declara que votou em Serra, o que ele está
dizendo em alto e bom som é que avalia o programa oposicionista como sendo
melhor. Há, portanto, um desalinhamento transparente entre o que queria o
ministro e o que defendeu a Presidenta, com maioria
do apoio da população votante. Esse ruído se torna ainda mais estridente se
observarmos que, hoje, Serra se coloca no espectro político nacional como
oposição sistemática e extrema ao governo Dilma”.
Portanto, e diante desses e de
outros casos envolvendo o Ministro, não há dúvidas de que, mesmo tardiamente, a
Presidenta Dilma agiu corretamente ao aceitar a exoneração de Nelson Jobim, que,
diga-se de passagem, foi beneficiado pela complacência da Presidenta que lhe
concedeu a chance de pedir exoneração do cargo, quando na verdade, merecia ser
exonerado, afinal, trata-se de um “Joaquim Silvério dos Reis Jobim”.